terça-feira, 9 de março de 2010

QUEM VÊ CARAS

QUEM VÊ CARAS


O artigo do jornalista Pedro Keul publicado na revista Pública no passado dia 10 de Janeiro devia ser leitura obrigatória para país, treinadores de jovens e dirigentes desportivos e políticos. Baseado no livro autobiográfico de André Agassi, intitulado Open, que saiu nos EUA em Novembro de 2009, Keul faz uma esclarecedora síntese do que o livro descreve relativamente ao que foi a vida infernal deste campeão de ténis, mundialmente conhecido pelos seus desempenhos superiores, mas também pelo seu visual e estilo rebelde, bem como por uma crise que o atirou para o fundo dos rankings do qual viria a remontar. O artigo a que o autor deu o título de O campeão que odiava o ténis, é uma clara demonstração do ditado popular de quem vê caras não vê corações….Com efeito, não poderia ser uma vida de felicidade a de quem, ainda antes de nascer, foi destinado a ser profissional do ténis pelo pai, antigo boxeur olímpico em representação do que é agora Irão onde nasceu e donde emigrou para os EUA, fugindo da pobreza. Aos sete anos era obrigado a bater 2550 bolas por dia, o que daria um milhão ao final do ano, condição que, segundo o pai, tornaria André num campeão. E, assim, se foi envolvendo numa bola de neve que, não obstante lhe trazer sucesso desportivo e reconhecimento mundial, o transformou num jovem cuja rebeldia era a resposta à infelicidade provocada por uma vida de tenista em que não encontrava sentido e na qual se sentia obrigado a mostrar uma aparência que não correspondia aos seus sentimentos e motivações.

COM SETE ANOS ANDRE AGASSI ERA OBRIGADO A BATER 2550 BOLAS POR DIA

Ao ler este trabalho recordei aquele jovem de 20 anos que me foi enviado pelo pai para que, na minha condição de psicólogo de desporto, o ajudasse a realizar o potencial de
campeão. Ainda em criança fora destinado a ser um tenista de topo mundial, muito longe da realidade que vivia e o atormentava. Tanto que sofria em cada jogo, onde punha em questão toda a sua vida!...E lembrei-me de muitos outros jovens que recebo acompanhados pelos pais cheios
de planos para a suas carreiras de futuros campeões, mas cujos olhos não brilham como os dos progenitores…Tantas vezes que o simples gosto e habilidade das crianças para o desporto é transformado pelos pais em expectativas de carreira nas quais se acabam por envolver sem motivação própria…

Por:
Sidónio Serpa

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